Era aquele tipo de beleza rara. Que parecia estar na cara, mas se mascarava pra não permitir-se mostrar.
Talvez quisesse parecer uma geleira. Para fazer com que os que chegassem até a beira não hesitassem em desistir.
O que ela não sabia é que só os bravos sabem o que há por de trás do iceberg. Só os insistentemente apaixonados e curiosos se interessam em derreter o gelo para descobrir, ou até mesmo criar a abonança que existe depois da tempestade.
De fato, havia tempestade. Mas do todo não era nem a metade.
Bonitos eram os olhos. Que se esforçavam para serem frios, para não serem notados e não demonstrarem nada. Mas que eram lindos quando se descuidavam o bastante para deixarem transparecer a alma.
Alma que embora deflagrada em outrora, não se permitiu em nada perder a beleza e a limpidez. E que só precisava de alguém que fosse capaz de decifrar seu brilho. O que era fácil, pois era o mesmo brilho admirável que havia nos olhos quando eles se permitiam brilhar, quando eram estimulados a brilhar ou mesmo quando eram notados brilhando incautos frente aos belos e raros fatos da vida.
Bastava alguém perceber e depois fazê-la notar o quanto o mundo precisava do seu brilho para que ela jamais cessasse de brilhar.
Hoje o brilho se tornou constante. O dos olhos, o da alma, e o da vida. O da vida dela e o da minha também. E brilhando assim ela é ainda mais linda, ela já era especial mesmo quando não brilhava, mas só que agora que brilha ninguém mais ousa duvidar disso.
E que ninguém duvide mesmo. Para que a beleza possa prevalecer sobre os insensíveis e os mortais. Para que todos façam como eu, que a admiro todos os dias como se não houvesse amanhã. Eu que faço de adorá-la um ritual diário como se o próximo dia só fosse acontecer daqui mil anos.
