Logo que a vi senti que era diferente. Parecia estar ali como que num deboche ao resto da raça. E a mínima graça que tinha se mostrava. Mas vinha como que não se importasse em vir.
Era aquele tipo de beleza rara. Que parecia estar na cara, mas se mascarava pra não permitir-se mostrar.
Talvez quisesse parecer uma geleira. Para fazer com que os que chegassem até a beira não hesitassem em desistir.
O que ela não sabia é que só os bravos sabem o que há por de trás do iceberg. Só os insistentemente apaixonados e curiosos se interessam em derreter o gelo para descobrir, ou até mesmo criar a abonança que existe depois da tempestade.
De fato, havia tempestade. Mas do todo não era nem a metade.
Bonitos eram os olhos. Que se esforçavam para serem frios, para não serem notados e não demonstrarem nada. Mas que eram lindos quando se descuidavam o bastante para deixarem transparecer a alma.
Alma que embora deflagrada em outrora, não se permitiu em nada perder a beleza e a limpidez. E que só precisava de alguém que fosse capaz de decifrar seu brilho. O que era fácil, pois era o mesmo brilho admirável que havia nos olhos quando eles se permitiam brilhar, quando eram estimulados a brilhar ou mesmo quando eram notados brilhando incautos frente aos belos e raros fatos da vida.
Bastava alguém perceber e depois fazê-la notar o quanto o mundo precisava do seu brilho para que ela jamais cessasse de brilhar.
Hoje o brilho se tornou constante. O dos olhos, o da alma, e o da vida. O da vida dela e o da minha também. E brilhando assim ela é ainda mais linda, ela já era especial mesmo quando não brilhava, mas só que agora que brilha ninguém mais ousa duvidar disso.
E que ninguém duvide mesmo. Para que a beleza possa prevalecer sobre os insensíveis e os mortais. Para que todos façam como eu, que a admiro todos os dias como se não houvesse amanhã. Eu que faço de adorá-la um ritual diário como se o próximo dia só fosse acontecer daqui mil anos.
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
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